DIA 256: Como Parar de Estar Acelerada na Mente e no meu Dia-a-dia

sábado, agosto 30, 2014 0 Comments A+ a-




Esta noite sonhei que conduzia na estrada e, ao tentar virar uma curva, tinha saído do viaduto e voado às cambalhotas pelo campo ao lado da estrada, até o jipe parar. Nesse momento, com medo de ver as consequências dos ferimentos, desejei andar para trás no tempo e conduzir mais devagar e não fazer a curva daquela maneira para evitar o acidente.

Ao investigar este sonho, perguntei-me o que é que eu via para além da imagem do acidente. Vejo-me a mim, acelerada na minha mente, a querer fazer muitas coisas ao mesmo tempo e a desprezar o tempo que as coisas realmente levam a fazer. Vejo também como desejo lidar com o tempo de maneira diferente: desejo ter tempo para não chegar atrasada e para dedicar mais tempo a outras coisas durante o meu dia. Finalmente, vejo o arrependimento de andar acelerada quando o meu corpo começa a dar sinais de stress e de cansaço por participar na energia da mente, dos pensamentos e imaginação.

Esta minha relação com o tempo é, portanto, uma relação de separação, como se o tempo fosse algo separado de mim que eu uso e abuso, embora afinal de contas não seja separado de mim porque o meu corpo está também dependente do tempo - ou seja, o tempo passa e reflecte-se na fome que o meu estômago começa a sentir, na necessidade de descansar, na ansiedade física quando corro para não chegar atrasada e no stress muscular quando passo demasiado tempo focada na minha mente de ideias, imagens e imaginação.

Estar acelerada dentro de mim é um estado mental que requer a minha correção, porque traz consequências para mim e para os outros. Ao andar acelerada na minha mente, a minha noção de tempo é manipulada para corresponder à velocidade quântica da mente, em que as imagens se ultrapassam umas às outras, sem qualquer referência ao tempo real e físico. Por isso, neste processo de correção, eu ajudo-me a alinhar-me ao tempo físico e real, de modo a estar sempre ciente do meu corpo e a garantir que as minha acções são geridas de acordo com o tempo real a cada respiração. Ajudo-me também a usar a mente como um guia para conhecer os meus medos, a minha maneira de funcionar e os meus padrões de pensamento e comportamento. Assim, ao ver o padrão de criar acidentes na minha imaginação eu ajudo-me a parar e a perceber que se estou na mente então não estou ciente do meu corpo/realidade física e por isso estou a colocar-me numa situação propícia a um acidente proveniente de uma distração.

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido acreditar que o tempo quântico da mente é real.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido usar o tempo quântico da mente como uma referência para a realidade e por isso participar na frustração de que as coisas na realidade demoram demasiado tempo a serem feitas.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido criar stress físico no meu corpo ao tentar fazer as coisas de acordo com a imagem do tempo quântico da mente.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido subestimar o tempo real que as coisas levam e por isso não considerar cada passo e prevenir as consequências de andar acelerada.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido culpar o meu corpo/a mim própria por ser lenta e alimentar o julgamento próprio, quando na realidade eu estou entretida na minha mente de ideias e no tempo quântico em vez de estar totalmente dedicada a viver no tempo real e a fazer as coisas de acordo com a leis físicas, quer seja a conduzir, a andar, a fazer, a crescer, a perceber, a aprender e a mudar.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido participar no arrependimento da mente e de desejar voltar atrás no tempo - o que não é possível e não é real. Apercebo-me que a única maneira de corrigir esta tendência é em mudar a minha relação com o tempo e ajudar-me a estar ciente de cada momento para que cada ação minha seja absoluta, em plena certeza e a ser/fazer o melhor que eu posso. Desta maneira, ao estar ciente de mim e ao estar ciente do tempo real e das leis físicas eu vou evitar criar consequências físicas e não irei participar no arrependimento e no desejo inútil de mudar o passado.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido acreditar que as consequências físicas (acidentes) são uma punição de Deus e assim evitar ver como eu crio as consequências para mim própria.
Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido acreditar que o passar do tempo que vejo nos filmes (e na minha mente) é real e que é possível ser transposto para esta realidade física sem criar consequências. Eu apercebo-me que eu sou responsável por viver em tempo real e em prevenir consequências de stress e acidentes na minha realidade.

Por isso,

Quando e assim que eu me vejo a imaginar eventos na minha mente, eu páro e respiro. Eu ajudo-me a ver que o tempo quântico da mente não é real e que estou a criar uma realidade paralela e fictícia que me disTRAI desta realidade física no mundo. Por isso, eu comprometo-me a parar de criar e participar em realidades paralelas na minha mente e assim ajudar-me a estar sempre ciente de mim e das minhas ações nesta realidade física.
Quando e assim que eu me vejo a criar uma imagem de mim a fazer qualquer coisa, eu páro a imaginação e respiro. Eu comprometo-me a usar o tempo físico como referência e a fazer as coisas do meu dia-a-dia de forma prática e eficaz de modo a fazer o máximo que posso com o tempo que tenho. Apercebo-me também que ao estar totalmente ciente de mim e das minhas ações, serei capaz de criar soluções para mim própria e assim permito-me fazer mais e melhor do que quando me limito com as ideias e padrões da mente.
Quando e assim que eu me vejo a criar a ideia de acidentes na minha mente, eu páro e respiro. Em vez de ficar "presa" emocionalmente a esta imagem, eu ajudo-me a ver e a investigar o que eu estou a mostrar a mim própria e dedico-me a criar a correção e a mudança na minha relação comigo e com o mundo.
Eu apercebo-me que o constante estado de alerta e de stress é evitável se eu estiver ciente de como a minha mente funciona, ciente do meu corpo e desta realidade física. Por isso, quando e assim que eu me apercebo que estou num estado de ansiedade, eu páro e respiro. Eu uso esta manifestação como um indicador de que estou separada de mim/do meu corpo/da realidade física e ajudo-me a parar de participar na mente e, com a ajuda da respiração, eu volto para mim, para o meu corpo, para a Vida Aqui, ciente de cada respiração e da minha ação.

Fotografia de João Maria Alves

Sites que eu recomendo:
http://lite.desteniiprocess.com/ Curso gratuito de Auto-Conhecimento 
http://forum.desteni.org/ Forum de participação, perguntas e respostas




DIA 255: Desconstruir a IDEIAlogia: a família não tem de ser o exemplo a seguir

quarta-feira, abril 30, 2014 0 Comments A+ a-


Comecei a julgar-me pela minha apatia em relaçao às pessoas à minha volta, porque nāo intervi quando as vi reagir ou a serem desonestas com elas proprias. Vejo agora que pouco ou nada se pode fazer pelos outros para ajuda-los a nāo ser eu manter-me estável em mim e agir em mim, sem ser influenciada pelo que os outros dizem ou fazem. Até agora sempre houve uma tendência para me deixar afectar pelo que os outros dizem ou fazem e para querer "salva-los" das suas proprias mentes mas é impossivel salvar uma pessoa de si própria. Realmente, cada um de nós é o seu próprio inimigo.


Desde que estou em Portugal que me apercebo-me da tendência de culpar os outros pelo que quer que seja - ou sao os emigrantes que sao os culpados pela violencia no país, ou é a mulher que nāo levantou a mesa, ou é o filho que nao sabe onde pôs nāo-sei-o-quê; As pessoas gritam em vez de falarem e quem grita mais alto é rei; O apego mental aos bens materiais é possessivo e emocionalmente destrutivo; a falta de planeamento cria stress; A necessidade de se controlar o que os outros dizem ou fazem é desgastante; O vício da justificaçāo impede ver-se que é possível mudar e fazer as coisas de maneira diferente.

DIA 254: Ficar na cama para evitar o frio lá fora

domingo, abril 20, 2014 0 Comments A+ a-

No artigo anterior apresentei a nova série "Desconstruir a minha IDEIAlogia" relacionada com as ideias que eu criei sobre mim própria e que constituem a minha ideologia de vida praticada até agora. Eu apercebo-me como uma ideia, quando justificada nas nossas próprias mentes com razões que nós próprios criámos, pode condicionar toda a ação ou qualquer tentativa de se mudar de atitude. O problema e a solução começa dentro de nós próprios. Por isso, eu apercebo-me que a desculpa de "estar frio" para não sair da cama é mais uma ideia que eu aceitei como válida na minha mente. Se para uns é o frio, para o outros é a desculpa da ressaca, outros é o conforto, ou ainda a resistência para se enfrentar o dia. Independentemente da justificação, estamos todos a condicionar o nosso dia a partir do momento em que acordamos e damos ouvidos à voz constante da mente, dos desejos, dos medos, das ideias e das emoções. Partilho agora o meu Perdão-Próprio específico para esta resistência para me levantar da cama quando está frio:

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido imaginar a sensação de frio e a minha reação ao frio que possa sentir quando saio da cama ou quando saio de casa.

Eu perdoo-me por me permitir e aceitar justificar a minha decisão de não sair da cama ou de não sair de casa com base na ideia de ir ter frio, sem ver que é a mim que eu estou a limitar a minha ação e expressão com um pensamento.

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido ficar a imaginar o momento seguinte em vez de viver a decisão de me levantar e de sair da cama sem permitir que as ideias me congelem a ação.

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido desejar ir para uma cidade mais quente para evitar enfrentar a minha relação com o frio; no entanto, como eu já percebi, este é um padrão que existe em mim e que se manifesta noutras situações. Logo, eu perdoo-me por me ter aceite e permitido definir e limitar pelas ideias que eu criei sobre quem eu sou e por acreditar que esta ideologia é quem/como eu devo agir.

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido pensar que não sou capaz de andar descalça ou de apanhar frio sem reagir com medo de ficar constipada ou com energia de choque, quando na realidade eu não preciso de participar nesta ideia que eu criei e alimentei para mim própria.

Eu comprometo-me a estabilizar o meu corpo através do perdão próprio em momentos em que eu vou lidar com o ponto do medo de sentir frio. Eu apercebo-me que o frio é uma sensação física que não requer o apego mental ao medo ou à ideia de que o frio vai ser penoso ou que irei ficar doente.

Eu perdoo-me por me ter aceite e permitido entreter a minha mente com a antecipação do frio e com a ideia de desconforto em vez de me focar na ação de me vestir rapidamente sem julgar o frio como mau, mas simplesmente sentir a temperatura e agasalhar-me até já não ter frio.

Vejo agora que a solução é clara quando se está fora do "estado mental" de resistência para FINALMENTE dar direção a mim própria:

Quando e assim que eu me vejo a imaginar o momento em que eu saio da cama e a ter frio, eu páro e respiro. O pensamento não é real e portanto não tenho de participar nele; posso e devo tomar a decisão de vestir uma roupa quente e começar o dia com plena força de vontade, sem estar presa a qualquer ideia.

Quando e assim que eu me vejo a pensar "só mais 2 minutos" em snooze, eu páro e respiro. Eu relembro-me que foi a minha decisão na noite anterior de acordar aquela hora e, por isso, eu comprometo-me a respeitar os horários que eu vejo serem o melhor para mim.

Quando e assim que eu me vejo a condicionar a minha expressão corporal por medo de ficar constipada, eu páro e respiro. Vejo pela primeira vez que mesmo antes de apanhar frio já estou a pensar na possibilidade de apanhar um resfriado, em vez de me focar em soluções práticas para me agasalhar, para criar o meu conforto incondicionalmente, fora e dentro da cama, e estar estável dentro de mim para prevenir qualquer fraqueza do meu sistema imunitário.

Eu comprometo-me a ajudar-me a parar os pensamentos/ideias que ditam aquilo que eu devo fazer, comprometo-me a estar presente nas minha ações e a fazer aquilo que é simples senso-comum: viver a decisão de me levantar (e vestir mais qualquer coisa caso esteja frio). Eu abraço a minha responsabilidade de criar a minha realidade e de ser/criar a solução para mim própria - neste caso, de garantir que me dou o conforto físico mas sem participar na paranóia nem limitações da mente.

DIA 253: Desconstruir a minha ideologia - a guerra fria que criei em mim

sábado, março 22, 2014 0 Comments A+ a-




Todo o meu programa mental é baseado em ideias que eu criei sobre mim própria e esta é a ideologia que tem servido de guia na minha vida, manifestada nas minhas decisões e atitudes para com as coisas, quer sejam acontecimentos ou pessoas.

De acordo com o dicionário, uma ideologia é "um sistema de ideias, valores e princípios que definem uma determinada visão do mundo, fundamentando e orientando a forma de agir de uma pessoa ou de um grupo social (partido político, grupo religioso, etc.)"*.
Cada um de nós tem a sua própria ideologia que funciona como os nossos óculos (com filtros!) para vermos o mundo e, especialmente, para nos vermos a nós próprios. São exactamente estes filtros/ideias de mim própria e do mundo que eu me proponho desconstruir ao longo do meu processo de investigação, perdão-próprio e auto-correção. Para isso, a primeira decisão foi a de ver que esta ideologia não é necessariamente a minha verdade e que eu não tenho de impor estas ideias a mim própria nem de projectá-las no mundo. Porquê? Porque não tem sido o melhor para mim nem para os outros à minha volta, especialmente nos padrões que se manifestam na minha relação comigo própria, nas minhas relações com os outros e na minha relação com o mundo. Há pontos que eu me tenho tornado ciente e me tenho dedicado a corrigir  ao longo dos últimos anos - tal como uma cebola, à medida que retiro uma camada encontro uma nova ou o mesmo ponto surge para eu lidar novamente, de uma vez por todas.

Vou hoje começar com uma ideia que, embora pareça ser superficial, foi a partir desta que eu comecei a investigar a origem da minha ideologia e que decidi escrever este blog.
Até hoje, tenho-me definido com sendo friorenta e ainda não me tinha apercebido como esta ideia me tem limitado e criado desconforto na minha realidade. Por exemplo, a ideia de ter frio tem-me impedido de sair de casa à noite, de sair da cama de manhã ou até de andar descalça na tijoleira. Se a ideia do frio não existir, aquilo que eu vejo é que é uma questão de hábito e que o meu corpo adapta-se à temperatura rapidamente.
Ou seja, a ideia que eu tenho do choque de temperatura é tudo aquilo que me limita - é a imagem do frio que existe na minha mente que me limita a minha ação, seja ela qual for! Lembro-me de ter ido fazer snowboard e, mesmo dentro do autocarro, já estava a criar uma reação ao frio só de pensar no frio que eu iria sentir  lá fora. Na minha mente, eu crio o desconforto do frio mesmo antes de o sentir porque já tenho registada em mim a ideia do choque de temperatura. No entanto, se eu não reagir contra o frio, irei rapidamente ver/sentir que afinal não custa tanto e que o frio passa, ou que posso fazer com que o frio não se sinta (agasalhar-me melhor, por exemplo)

A importância de analisar a minha experiência do medo do frio reside em identificar um padrão de pensamento que, muito provavelmente, se aplica noutras situações e que pode evoluir para uma fobia. Tal como qualquer medo, este não precisa de existir. O mesmo padrão existe em relação às preocupações: ou seja, pre-ocupamo-nos com algo mesmo antes desse algo existir. Isso é inútil e não ajuda a lidar com a realidade.

Durante a minha infância eu lembro-me de ser chamada "friorenta" porque eu era mais sensível ao frio do que as minhas irmãs. A minha mãe dizia várias vezes que eu "era feita de lãzinha" porque não podia apanhar uma corrente de ar ou sentir um bocadinho de frio sem me queixar. Este tornou-se um automatismo até hoje.
Ao escrever sobre este padrão consigo identificar outros automatismos em mim que são baseados em ideias, ou seja, a minha ideologia passou a ditar as minhas ações. O facto de eu acreditar que sentir o frio do chão ou a brisa do vento é razão para eu reagir faz com que eu reaja. Porquê? Vejo agora que existe o medo de ficar constipada. Quem é que não ouviu dizer: "não apanhes frio ou ainda ficas constipada". Grande parte da educação infantil consiste em ameaças ou em ultimados de "ou fazes isto ou qualquer-coisa-de-mau acontece". Por isso, apanhar frio ou sentir frio passou a ter uma conotação negativa em mim. Quantos de nós temos esta relação de medo ou de preocupação com as coisas?

Este processo é revelador. Quanto da vida estamos a ignorar ou a escolher não ver porque aceitamos e permitir limitarmo-nos com as ideias que impomos a nós mesmos? Quanto de mim estou a limitar ao participar neste padrão de auto-limitação que, tal como um vírus, tem a capacidade de contagiar as minhas outras ações para justificar a "lealdade" à ideologia?

Apesar deste blog ser essencialmente para transmitir o padrão e perceber como é que a mente funciona, escusado será dizer que são exactamente estas ideias que criam separação para com a realidade e isto passa-se tanto nas nossas vidas pessoais como ao nível internacional - basta ver como a ideologia serve de rótulo que bloqueia a comunicação entre grupos definidos por ideologias diferentes.

Não será a Guerra Fria uma manifestação da nossa própria relação com as nossas ideologias e da maneira como nos sentimos ameaçados por ideologias diferentes que desafiam as nossas própria crenças?
Finalmente, não será a ideologia uma barreira invisível e mental que nos separa do mundo físico e da realidade?

Voltando ao exemplo do frio, o facto de eu evitar colocar o pé na tijoleira, estou a sabotar o meu equilíbrio corporal e posso eventualmente magoar-me "a sério" na tentativa de saltar de um tapete para o outro; ter resistência para sair de casa por causa da ideia do frio pode condicionar o meu dia e dificultar a minha comunicação com os outros por estar em modo reactivo;  preocupar-me com a ideia de ficar constipada por sentir frio é meio caminho andado para me permitir estar vulnerável e criar a minha própria doença na minha mente e depois no meu corpo.


Este processo de desconstruir a minha ideologia é o processo de tomar responsabilidade por cada pensamento, por cada ideia, por cada julgamento e por cada verdade ou mentira que eu criei em mim própria. Só tirando estes óculos foscos é que será possível ver o que a vida realmente é, expandir-me e vero o mundo em que andamos, com os pés bem assentes na Terra.


* Referência: http://www.infopedia.pt/lingua-portuguesa/ideologia;jsessionid=4dEnn8Aioc735WTIZ+kn7Q__

Ilustrações: Andrew Gable, Stop the Cycles of Collapse
                Word from the Well, Ground ourselves


DIA 252: Desejo de ajudar os outros e a resistência para me ajudar

quarta-feira, fevereiro 26, 2014 0 Comments A+ a-

Tenho-me apercebido deste fenómeno mental que é o de tentar resolver os problemas dos outros, ajudar os outros e eventualmente salvar os outros de um mal qualquer. Não deixa de ser interessante todo o processo mental de acreditar que o problema do outro é mais simples de resolver, ou até mesmo conseguir ver claramente o que é que o outro deve fazer para resolver o problema. Talvez seja com base neste vírus mental que a sociedade actual apresenta casos em que se espera ser salvo por alguém, ao mesmo tempo que nos sentimentos extremamente orgulhosos quando ajudamos alguém e somos tomados como "anjos".

Porque é que frequentemente somos capazes (de acordo com a nossa mente) resolver mais facilmente o problema que o outro apresente do que resolver os nossos próprios problemas? Será que acreditamos que conhecemos o outro melhor do que ele se conhece a si mesmo?

No meu caso, apercebi-me também que esta personalidade consegue tomar proporções extremas de me punir mentalmente quando não consigo ajudar o outro. Já não é tanto querer ajudar mas é o ego de ser reconhecido pelo outro, de cumprir uma missão, de fazer "o bem", de evitar a dissonância cognitiva entre aquilo que se acredita e o que se faz - no final de contas, trata-se de ter controlo sobre a vida da outra pessoa, o que é uma forma de poder ilusório. Seguramente, aquilo que se perde é o controlo da sua própria vida...

Pergunto-me: desde quando é que não ajudar o outro é um acto de egoísmo? Será que ajudar o outro sem se primeiro ajudar a si próprio não é um acto de desonestidade própria? Como é que se estabelece um equilíbrio de modo a não comprometer-se a própria vida quando se está sob o saviour syndrome?

Ultimamente tenho ponderado sobre estes pontos, especialmente quando se trata de ajudar os outros financeiramente. Convém antes de mais lembrar que, o dinheiro, ao contrário da cultura, não uma coisa que se dá sem se perder: quando se dá dinheiro a outra pessoa, fica-se sem ele. Seria interessante que o dinheiro tivesse a capacidade de se expandir e partilhar da mesma forma como a cultura e a educação passam de uns para os outros. Certamente que muitos problemas neste mundo deixariam de existir...

O outro fenómeno que se tem de ter em consideração é a noção do emprestadar, ou seja, a ilusão de que se vai reaver o dinheiro aparentemente emprestado. Uma ferramenta fundamental nestes casos é a comunicação para que ambas as partes estejam claras sobre o destino do dinheiro e da própria relação - as assumpções que um vai devolver o dinheiro pode não corresponder à vontade do outro e, por isso, se esta situação for planeada e discutida logo desde o princípio podem-se evitar surpresas desagradáveis.

O desejo de ajudar o outro tem uma polaridade: a negação de se ajudar a si próprio. Vejo que ajudar os outros pode facilmente tornar-se num hobbie ou mesmo numa distração para se evitar olhar para os próprios problemas dos quais cada um individuo é responsável.

Quanto à honestidade própria, será que emprestar-se dinheiro realmente ajuda o outro? Dar-se dinheiro a uma pessoa viciada no jogo irá provavelmente alimentar o vício. Dependendo da extensão do vício, negar-se essa ajuda pode ser realmente uma ajuda para a pessoa ver o ciclo que está a criar em si própria. Ao mesmo tempo, é óbvio que dar dinheiro num dia não vai resolver a origem do problema.
Aquando da minha estadia na Africa do Sul, deparei-me com um caso em que um mendigo me abordou de forma implacável e emocionalmente forte e, apesar de inicialmente eu acreditar que o podia ajudar, a situação acabou por envolver os seguranças do centro comercial e causou mais problemas para o mendigo e insegurança em mim. Com isto quero dizer que cada um de nós irá ter de inevitavelmente perceber que nenhuma destas atitudes serve para si próprio: nem a manipulação sentimental dos outros, nem o desejo de ajudar baseado na culpa de se ter mais do que o outro.

No que respeita ao sistema económico, para-se resolver um problema gigante será necessária uma solução em grande, que realmente garanta que cada ser humano tenha acesso aos recursos  necessários para uma vida digna (ver por exemplo Rendimento Básico Incondicional e o Rendimento de Vida).

Ao vermos que aju-dar nem sempre é o melhor remédio, podemo-nos questionar sobre o que é que é realmente honesto na relação com a outra pessoa?  Em vez de dizer o que o outro deve fazer ou ser, porque não sê-lo também e tornar-se num exemplo da eficácia de tal aplicação?

Cada um tem de se responsabilizar pelo que se passa dentro de si mesmo- o seu Processo de Vida.
Outra realização fundamental é a de perceber que nada na realidade individual de cada um vai mudar se a própria pessoa não mudar - e no que toca à mudança (de pensar, de ver as coisas), cada um só pode fazê-lo por si.

A relação que se tem para com o dinheiro e para com os outros reflecte a relação que se tem consigo próprio, e este é um novo ponto a investigar em mim.


Salvar os outros pode ser então um espelho da ideia que tenho de mim própria: a ideia de que preciso de ser salva de algo ou de alguém, a ideia que não sou capaz de resolver os meus problemas e que preciso que alguém os resolva por mim. Por isso, apesar de saber aquilo que tenho de resolver em mim, é aparentemente mais fácil olhar para o problema do outro, talvez porque não conheço a altura do abismo do outro tão bem como conheço o meu. Em honestidade própria eu sei por onde começar.

Ilustração by Andrew Gable.

DIA 251: Problema-Solução: Não permitas que o medo se torne na tua profissão

sexta-feira, janeiro 03, 2014 0 Comments A+ a-



Há uma resistência em mim para estar estável e parar de criar problemas na minha mente. Escrevi o texto que se segue no avião quando voava para Portugal. Apercebi-me que, apesar das dezenas de viagens que eu já fiz, sempre que ando de avião tenho um backchat associado ao medo da morte.

Os pensamentos sobre a minha morte surgem automaticamente porque eu tenho permitido que o medo tome conta de mim, em vez de eu me dar direção e manter-me estável como Vida - o que prova que eu ainda não Sou Vida em cada momento, palavra, acção.

O medo da minha decisão de comprar o bilhete de avião mostra-me que tenho resistência para confiar nas minhas decisōes, apesar de que tudo que faça seja sempre uma decisão minha (quer seja viajar em lazer, viajar em trabalho ou em ficar em casa). Percebo então a frase "A estabilidade própria é incondicional", porque eu, enquanto Vida/quem eu Sou em mim, não estou dependente do local nem daquilo que eu faço. Se eu aplicar a minha estabilidade própria a cada respiração, consigo dar direção aos meus pensamentos e corrigir aquilo que é desonesto comigo própria. O estado de instabilidade não é a norma, é a excepção.

No filme que estava a ver durante o voo, a personagem dizia: "Não permitas que o medo se torne na tua profissão." Vejo que ao ocupar-me dos medos estou a prender-me e a limitar a minha aplicação, porque o medo é como uma cegueira. Realizo também que o medo da morte é o medo de me perder e que o medo de me perder é uma forma de evitar encontrar-me.

Quanto ao ponto de ultrapassar os meus medos apercebo-me que vou enfrentar a minha mente até criar a minha estabilidade por mim. Eu tenho de me relembrar  /aplicar o meu Processo a cada momento porque este não é um sistema automático - é um Processo de auto-criação a cada momento e não é automático porque isso seria ainda a mente do "conhecido" e porque requer prática para mudar os hábitos da mente. No meu processo de mudança, é em mim que eu confio porque é esta a minha responsabilidade - confiar na minha decisão de andar este processo, perceber os problemss, testar a minha mudança e tornar-me na solução em tudo o que sou e faço.

Em alturas de turbulência apercebo-me da tendência de querer fugir do avião e ir para terra, onde eu penso estar estável. No entanto, mesmo em terra, os mesmos medos (padrōes) continuam a surgir, embora manifestados de outra maneira. Concluo então que eu não me posso permitir desistir de mim própria nem abandonar-me. Sou eu que movo cada célula do meu corpo a cada passo - eu sou cada célula e cada partícula da minha/desta existência, em unidade e igualdade. Desistir de mim é desistir desta existência, de tudo e de todos. Desistir de me tornar na solução é aceitar e permitir ser o problema. Por isso, tenho cada momento para me estabilizar, respirar, ver o problema e focar-me na solução. Cada pensamento que surge em mim é uma oportunidade para me dedicar a parar/direcionar o medo, o padrão, a emoção que eu criei em mim e me defini como tal. Finalmente, realizo que o padrão do medo é um círculo fechado que eu criei e que quanto mais eu me dedico a conhecer quem eu tenho existido até então (como mente/medo/energia/problema), mais eficaz sou no meu Processo de me recriar como Vida (estabilidade/senso comum/honestidade própria/solução).

DIA 250: Recriar auto-estabilidade: nesta (mu)dança estou sozinha

quarta-feira, janeiro 01, 2014 0 Comments A+ a-


De regresso ao meu dia-a-dia citadino após um mês a viver na quinta Desteni na África do Sul, estou a aperceber-me das minhas reações mais rapidamente, ou seja, a instabilidade que os pensamentos causam em mim é reparada no momento e já não ignoro nem aceito a instabilidade como o meu estado "normal". A instabilidade em que eu me habituei a existir consiste num estado de ansiedade constante, de preocupação e de stress que já se acumula desde os tempos da escola e que tem de ser investigada. Aquilo que eu não me tinha apercebido é: a consequência que este estado de ansiedade tem no meu corpo, manifestado na alteração hormonal para corresponder ao estado de alerta associado aos elevados níveis de stress; segundo, que sou capaz de existir estável em mim; e, também, que eu sou responsável por criar a minha estabilidade.


É fascinante ver em mim própria as mudanças provenientes desta decisão de recriar a minha estabilidade onde quer que eu vá e independentemente de quem eu esteja: o facto de regressar ao meu dia-a-dia e continuar a dedicar-me ao meu Processo incondicionalmente é o melhor souvenir que eu podia ter trazido da minha viagem à Africa do Sul. As mudanças que eu estou a criar à minha volta vêm de dentro para for a, isto é, aquilo que eu antes via com sendo um problema eu estou agora a ver com outros olhos: procuro ver com os olhos voltados para uma solução.

 
Em vez de reagir dentro de mim quando alguma coisa na realidade externa não está a bater certo, eu procuro desvendar o porquê de estar a julgar a realidade (por ex. Quais sao as ideias ou desejos que eu tenho sobre como as coisas deviam ser) e pergunto-me o que é que eu posso fazer para me estabilizar (por ex. Escrever sobre determinados pontos) e mudar a situação para melhor, não baseado em desejo mas simplesmente em senso comum sobre como eu posso mudar a minha participação para me expressar livre dos julgamentos da mente. Foi precisamente isto que realizei na minha passagem de ano: apercebi-me que o meu Processo é como uma dança que eu danço comigo própria, primeiramente sozinha e, às vezes, acompanhada.


No primeiro dia do ano comecei o dia a escrever: escrevi o perdão próprio sobre os julgamentos e conversas na minha mente sobre a festa onde eu estava e foi como se um peso saísse de cima de mim - o peso ilusório da mente e dos pensamentos que eu criei e que sou igualmente responsável por parar e limpar em mim. Esta decisão de começar a escrever teve uma pequena resistência inicial mas que se dessipou no momento em que eu peguei no meu caderno e comecei o perdão prório.


Tal como uma (mu)dança, o meu processo de estabilidade/limpar a mente implica vontade própria e o movimento físico para criar soluções e testá-las com novos passos, aperfeiçar-me com novas maneiras de fazer as coisas e estando sempre ciente de quem eu sou a cada momento.

Quanto ao ponto de estar sozinha, isto vem da realização que sou responsável por tudo o que me acontece. Em honestidade própria eu vejo que não há nada nem ninguém a culpar sobre o que quer que eu pense, sinta ou faça, da mesma maneira que não há nada nem ninguém que me possa dar auto-estabilidade. Obviamente que há coisas práticas que podem vir da entreajuda e da cooperação entre nós (it takes two to tango) no entanto, cada um de nós está sempre sozinho em cada passo que decide dar, em cada pensamento que aceita ter e em cada correção que permite aplicar.